sábado, 4 de dezembro de 2010

GOTHE CROMO GOL

















Por Ricardo Gothe - As lendas podem estar mais do que vivas, entre nós, na mesa do lado. Paulo Schemes chega ao GOTHE CROMO GOL para assinar essa máxima, a lenda pode continuar a fazer a história, e não ser unicamente um registro. É ele quem conta sua trajetória, memórias de infância, como caminhou para se confundir com a própria história do Futmesa. Com vocês o GOTHE CROMO GOL, com vocês, Paulo Schemes.

Aos cinco anos sendo uma criança e querendo durante o dia apenas brincar, sendo de uma geração onde não existiam na época os shoppings, vídeo games ou o grande apelo de marketing via televisão que temos hoje, fui muito feliz brincando com o que tinha, e à medida que crescia evoluía junto minha capacidade de criar e construir meus brinquedos.

Assistia semanalmente meu pai reunir-se com amigos em volta de uma mesa  e jogar “botão” com uma euforia juvenil, e aquilo era sistemático e constante. Naquela época meu pai inovava, tinha uma mesa de dois lados, no primeiro em madeira com marcação e furos para as goleiras, no segundo revestida em feltro (como uma mesa de sinuca) onde jogavam como os mesmos botões, porém com uma bola de cortiça redonda. Era apaixonante, campo verde marcado em branco, goleiras e redes branquinhas, era uma pérola.  Para nossa sorte crescemos e já alcançávamos na mesa.

Como iniciação eu e meu irmão fomos presenteados com os famosos times de panelinha, onde podíamos jogar no chão, foi o início de algo que eu jamais imaginaria do quão importante e decisivo seria em minha vida. Aquele brinquedo virou de imediato um vício, porém em seguida já não era mais o que queríamos, mas sim um time para jogar naquela mesa. 

Morávamos na zona Norte de Porto Alegre, e sempre fomos muito ligados ao futebol desde pequenos, com a evolução natural das coisas, já não era motivo de alegria poder jogar no Passo da Areia, queríamos jogar no Maracanã que estava ao nosso alcance pelo aumento da estatura e por já nos acharmos aptos a desfrutar, visto que já havíamos cumprido estágio jogando no chão com os panelinhas.

Na Rua Vicente Palloti no bairro IAPI surgiu forte o jogo de botão, naquela época a rotina era a turma de amigos, onde para cada época do ano se tinha uma atividade, jogo de taco, peão, bola de gude, futebol e muito jogo de botão.

Em um local mágico DE BAIXO DE UMA PARREIRA o palco (mesa) ficava armado, eram campeonatos longos entre muitos amigos com apenas uma mesa, torcida, pressão, muito jogo e pouco tempo. Daquela regra evoluímos para a Regra Gaúcha onde evoluímos de um universo de Bairro para o Estado, onde coordenados pelo saudoso Paulo Borges jogávamos e participávamos de Campeonatos Citadinos e Estaduais. 
 
Aos 15 anos fui levado por meu pai ao Internacional onde havia um Departamento muito organizado com muitas mesas e verdadeiras feras da época, Pedro Cruz, Azevedo, Vanderlei, Gilberto Rosa, Aldrovandi e muitos outros, neste período disputamos muitos Campeonatos Estaduais e Citadinos jogando na Regra Gaúcha, era a realização de um sonho e algo que se fazia com afinco, perseverança e muito amor, sempre acompanhados de meu pai, nosso mentor e também praticante e apaixonado pelo jogo de botão.

Mas os jogos continuavam na mesma toada na Vicente Palloti, a turma continuava unida e jogando muito, agora em uma mesa da Regra Gaúcha.  Com a integração e relacionamento que este esporte propicia, meu pai acabou sendo nomeado Diretor do Departamento de Futebol de Mesa do S.C. Internacional e lá em uma noite de inverno conheceu José Bernardo Figueira que veio de Pelotas para apresentar o que na época chamava-se Regra Baiana. Impressionante, mesa enorme, o dobro da que estávamos acostumados a jogar, botões maiores, goleiras maiores com o goleiro jogando em pé (parecia fácil). 

Com isto buscou-se mesas para este fim e meu pai organizou o Torneio Inter 70 anos em 1969 no Ginásio Gigantinho, onde estiveram presentes Luis Ernesto Pizzamiglio e Ayrton Dalarosa de Caxias do Sul, Antonio Carlos Martins e Helio Nogueira do RJ, Dirnei Custódio de Santana de Livramento.  Foi como andar nas nuvens, jogar uma regra nova, botões novos, com gente de outros estados ou cidades onde antes não tínhamos tido oportunidade de jogar. Neste evento ganhei minha primeira ficha grande do Pizzamiglio que me aconselhou a jogar com ficha grande o que faço até hoje. 

A revolução, mudanças de raciocínio e de horizontes com a REGRA BRASILEIRA, provocou o que era inevitável, o crescimento do Departamento, a necessidade de mais recursos, tempo e dedicação gerou em meu pai a decisão de fundar uma Associação própria, onde objetivava ter autonomia de movimentos e liberdade sem depender de autorizações superiores.

Voltamos para a Vicente Palloti, mas agora jogando na REGRA BRASILEIRA, e já com quatro mesas ao invés de uma apenas, assim nascia a Associação de Futebol de Mesa de Porto Alegre, a AFUMEPA, que com a adesão de novos adeptos (e eram muitos) obrigou-se a mudar para a Av. Independência, depois para a José Escutari.  Neste período tivemos oportunidade de disputar muitas competições a nível regional e nacional, onde conquistei um grande amigo em que nos defrontamos em duas finais de Campeonato Estadual por dois anos consecutivos, Sergio Pierobon, um astro do Futebol de Mesa, grande amigo daqueles que a gente cuida para sempre. De títulos, um Campeonato Estadual em Santana do Livramento e um Centro Sul Brasileiro em Porto Alegre.

Em 1986 pelo fato de residir em Guaíba, trabalhar em Guaíba e ter muitos amigos que praticavam Futebol de Mesa na fábrica e motivados por jogos internos (Olimpíadas), com o incentivo do Clube Recreativo Riocell em agosto inauguramos nosso Departamento de Futebol de Mesa com vinte e cinco praticantes, para o início era um número bastante significativo.

Em setembro por sorte do destino em nossa primeira competição a nível nacional, fomos ao Rio de Janeiro jogar o Campeonato Centro Sul Brasileiro.  Deus olhou para nós e nos sagramos Campeões, era o que faltava para a cidade de Guaíba entrar em ebulição com o Futebol de Mesa. Só quem viveu aquela época sabe, o apoio do clube foi total, a imprensa da cidade nos concedeu até espaço para coluna semanal sobre nosso esporte. 

Surgiu uma geração de ouro em função desta movimentação, Leandrinho, Marcelo e Diogo Mallet e Tiago Leão e André são frutos  deste movimento e desta época, e hoje por onde passam arrematam títulos, ao vê-los em ação constata-se  que este é o verdadeiro sentido de nossa missão, perpetuar e multiplicar o amor por este esporte.

Esta obra prima foi construída em conjunto com muitas mãos, dentre elas as de Joni na época Presidente do CRR, Paulinho, chefe da marcenaria da Riocell que nos ajudou muito na confecção das primeiras mesas, Francisco Giacobo (Chico) Menegotto, Perez e Marcos Jair Steyer que viria a se tornar o grande líder deste grupo, Nelsinho e Leandro Guimarães Fraga, sem sombra de dúvidas foi o âncora com seu carisma e espírito aglutinador. Deste grupo e desta época fica uma saudade enorme, com certeza foi o momento mais forte do Futebol de Mesa sob o aspecto de motivação, de grupo e de dedicação já vivido até hoje.

Encerrado o ciclo guaibense, naturalmente estabeleceu-se um hiato, pois a saudade e a falta daquele convívio me foram pesados de suportar e superar. Adaptado as mudanças pessoais, residindo agora em Canoas, surge a possibilidade e o convite de freqüentar o Caixeiros Viajantes, onde encontro Jorge Eloy, um grande AMIGO de infância da Vicente Palloti, e volta à rotina de jogar e praticar o Futebol de Mesa.  Este grupo resolve mudar de ares e acertam a transferência para o Circulo Operário de Porto Alegre COPA, onde entra em cena um AMIGAÇO, Nilmar Ulguim Ferreira, na mesa o pior adversário que eu poderia ter, tanto é que até hoje nosso jogo é considerado o DERBY do departamento, porém fora das mesas um amigo fiel, sincero e muito leal, onde ao longo destes quase 10 anos desenvolvemos uma amizade e admiração mútua que nos deixa muito próximos, conjugando e conciliando nossas idéias e estilos.

Surge o COPA, grupo heterogêneo, onde existiam os fominhas que estavam sempre nas mesas jogando e buscando resultados, e os festeiros que viam nos encontros momentos de descontração e alegria, com muita freqüência coroados com salchipão e cerveja. 

Realizamos no COPA um Campeonato Citadino onde matamos as saudades de muitos amigos, principalmente dos de Guaíba aonde depois de muito tempo e pela primeira vez os vimos do outro lado da mesa como adversários. O grupo ainda se acomodava e adaptava à rotina de competições internas quando através do Vito fomos conhecer o Departamento do Internacional, onde jogavam exclusivamente na Regra Gaúcha. Fantástica a estrutura e movimentação com os adeptos da antiga regra de todos nós. 

Ao chegarmos lá encontramos Peddi, Nilo e Oberici que nos receberam de braços abertos, vislumbrou-se com muitos bons olhos a possibilidade de ter a Regra Brasileira no S. C. Internacional (de novo).
Estabelece-se a euforia dentre muitos que percebem que agora em outro momento, com o Futebol de Mesa consolidado no cenário regional e nacional, poderíamos reeditar a história iniciada por Claudio Schemes agora com uma base mais sólida. 

Começa a se formar um grande e forte grupo, Nilmar, Rodrigo, Jorge Eloy, Azambuja (imaginem com a camisa do Inter, e tem registro em fotos), Claudio Queixinho (que Deus o tenha) o grande amigo de Santana do Livramento que com seu filho Diego nos brindava com sua presença e histórias onde a cada encontro revivíamos o início desta jornada lembrando-se de nossos líderes como meu pai e Dirnei Custódio, Claudio Queixinho e suas “deixas” como o Gol de Folha Seca, Mateus Galata (que esperamos um dia vê-lo de volta ao nosso convívio) com sua técnica refinada e precisão cirúrgica no jogar.

Com o nome forte INTERNACIONAL a embasar o Departamento, trouxe ao nosso convívio Jaime Junior, chegou de mansinho para ver o que era, viu, gostou e rápido como quem já nascesse com o dom, começou a jogar com seu Bagé, dedicou-se de tal forma a este esporte que hoje é o nosso principal líder natural, e isto é coisa que não se impõe, se conquista, e ele com sua dedicação e obstinação naturalmente ocupou este espaço que lhe é de direito.

Caco chegou e ficou. Meus filhos Bruno e Thiago, inseparáveis e amantes deste esporte como seu avô. Com a presença também de Gilvani Moreira que vinha de Passo Fundo para jogar conosco a cada 15 dias montamos um grande grupo onde com 16 mesas tínhamos o maior Departamento de Futebol de Mesa do estado com certeza, uma bela sala, boas mesas, estrutura e pessoal, o que querer mais?  Fizemos parte do maior evento já realizado até hoje neste esporte, a Copa Ricardo Teixeira que reuniu no Ginásio do Gigantinho 500 técnicos jogando em diversas regras, Brasileira liso e cavado, Gaúcha, Dadinho e carioca. Foi um evento inesquecível onde o ginásio ficou lotado e repleto de mesas. Os baluartes do Futebol de Mesa, Dirnei e Claudio se presentes se emocionariam com os frutos das sementes que plantaram.

Infelizmente nada é eterno, por razões um tanto obscuras encerrou-se o ciclo do INTER na Regra Brasileira, como resultado prático, um terceiro lugar no Campeonato Estadual realizado no GRÊMIO, e um Vice Campeonato Brasileiro em Florianópolis, mas o grupo seguiu forte e unido em busca de outra praça para “atrelar o pingo”.

Reuníamos-nos semanalmente no Mac Áureo traçando estratégias e vendo alternativas. Eis que surge a possibilidade da Academia Franzen.  Junior, sempre ele, buscou esta possibilidade e conseguimos definir parceria.  Mudança, mesas, este era o nosso problema, não tínhamos mesas, mas em uma ação rápida com o Nero, e com a participação financeira do grupo, rapidamente estava resolvido este impasse.

Iniciamos atividades e continuamos nossa caminhada de evolução e crescimento. Nesta nova fase conquistamos para o grupo os acréscimos de João, Carlinhos e Rogério, Fernando Palhaço (já falecido), Mauricio (Mau Mau) e Fernando Fof,  nosso coordenador gastronômico.  A grande conquista deste grupo com certeza foi o privilégio de conviver com Guido Garcia Stein, este fantástico ser humano que durante sua passagem breve, porém intensa, bordou nosso Departamento com harmonia, alegria e muitos ensinamentos. Guido com certeza é um troféu que ostentamos com orgulho, um amigo para sempre, um patrimônio deste grupo.

Como o grupo de forma constante buscava o algo a mais, tínhamos o sonho de conciliar FAMÍLIA/FUTEBOL DE MESA e sabíamos que se isto fosse alcançado atingiríamos o supra-sumo em termos de satisfação e com certeza poderíamos ter mais tempo para nos dedicar às nossas prioridades, FAMÍLIA/FUTEBOL DE MESA.

Através dos amigos que já freqüentavam o Circulo Militar de Porto Alegre, chegamos ao Coronel Emilio, nosso padrinho, que possibilitou o ingresso de nosso grupo no quadro associativo desta entidade que nos recebeu de braços abertos onde estamos hoje felizes jogando as terças, quintas, sábados e domingos, ou seja, jogamos sempre que temos vontade, basta querer.

Como se pode constatar, a vida é um ciclo, existem as voltas como foram os casos da Vicente Palloti e do Inter e existem os fatos definitivos, este grupo é definitivo, pois sem ele não teríamos chegado até o dia de hoje neste esporte, sua base está montada em um projeto idealizado por meu pai e sustentado por meus FILHOS/AMIGOS Bruno, Thiago e Rodrigo, e espero ansioso pelo dia que verei PEDRO SCHEMES debruçado sobre uma mesa a praticar um esporte que se confunde com meu sobrenome. Será a terceira geração, é um legado, é uma missão que sinto ter perante tudo que meu pai sonhou. Eu, meus filhos e meu neto, temos o dever de manter a chama do Futebol de Mesa sempre acesa para a cada dia escrever as páginas restantes desta história.

Vamos em frente, ainda temos muito que fazer, quer seja proporcionando mesas de melhor qualidade para a prática, quer seja pelo  prazer renovado constantemente  de jogar e estar com os amigos,  e este esporte  mágico faz com que em determinados momentos pensemos ser ainda aqueles meninos DEBAIXO DA PARREIRA.

Confira no LANCE DE DOMINGO que tem mulher praticando o Futmesa e muito mais !

* foto dos arquivos do Gothe Gol 

6 comentários:

Guido - Maletas para Futebol de Mesa disse...

É emocionante a narrativa do Paulo. Participei de uma parte dessa trajetória mas vivi, em cada palavra, o restante. É uma vida a desfilar com acontecimentos marcantes. Num período em que mais precisava de um ombro amigo,ali estava Paulo Schemes. Graças a sua ajuda, a sua companhia, consegui reequilibrar minha vida. E ele preza muito os seus amigos. Podemos ver na sua narrativa. É um desfile de nomes... Um abraço, meu amigo!

Rodrigo Bernardes disse...

Não há muito o que dizer perante uma narrativa como esta senão: Obrigado.

Obrigado, por que desde sempre fostes meu amigo, meu padrinho e meu Mestre na vida e nas tantas mesas em que já estivemos juntos.

Me ensinaste muitas coisas, mas acima de tudo me ensinaste a amar e respeitar a prática do futebol de mesa. Me ensinaste a encará-lo como muito mais que um jogo, mas como um legado a ser cultivado e fortalecido.

Tenho certeza, que se presente, o nosso saudoso Claudio Schemes estaria a ler esta bela narrativa e diria a si mesmo, com os olhos marejados: Missão Cumprida.

Obrigado Dindo, por dividir conosco o grande amor da tua vida, o futebol de mesa.

Grande Abraço.

Maurício disse...

Acordar e ler um texto com uma história tão bonita e intensa assim é muito gratificante e estimulante para nós amantes do futebol de mesa.
Paulinho quero te dar os meus sinceros parabéns e também dizer que tu és um exemplo a ser seguido nas mesas e rincipalmente fora delas!!!
Que Deus continue te iluminando e que possamos continuar por muitos e muitos anos nos divertindo na volta das mesas...
Um forte abraço e um beijo no teu coração!!!
Maurício Ferreira (Chambinho).

CACO disse...

Grande Paulo passaste paara o texto a mesma energia dedicada ao esporte. Parabéns pela caminhada.
Alô pessoal que escreve alguém junte estes depoimentos e contém a história do futebol de mesa gaúcho.

Anônimo disse...

Paulo, lendo esta tua narrativa tenho que te confessar que fiquei um pouco enciumado, pois não consegui fazer com que meus filhos fossem praticantes desta coisa maravilhosa chamada Botão e sim praticantes de video-games etc!Claro que é um ciumes muito gostoso, pois ao mesmo tempo fico lisongeado de praticar este esporte e ter tido a oportunidade de jogar contigo!
Parabéns pela trajetória, pela sua história e pelos feitos para que nunca pare o futmesa!
Abração

lhroza disse...

LH.ROZA...
PAULO !!!Antes da pergunta,venho agradecer por fazer parte do seu restrito círculo de amigos; pois sua narrativa fez recordar 1987, quando iniciávamos o Dptº.Futmesa do COP o conhecemos,VC é uma pessoa especial.
JOGO DE BOTÕES...o que nos lev a jogar botão???bater uma bolinha com os amigos!!!eis ha questão,acho que omais nobre dos poetas diria: O jogo de botão faz esquecer os problemas pessoais, é como um desestressador natural
Um forte abraço